Entrar na renda variável pode ser um desafio, mas existem várias opções para se diversificar nesse mercado. No artigo de hoje vamos debater qual a melhor opção: ETFs ou fundos de ações?
ETFs ou fundos de ações: entenda as principais diferenças
ETFs e fundos de ações funcionam de forma bastante diferentes. ETFs (Exchange-traded funds) são fundos negociados na bolsa de valores. Eles podem ser de gestão ativa ou passiva. Porém a maioria desses fundos seguem um índice, assim sua gestão é passiva pois não há um trabalho intelectual para escolher ação por ação. Isso acaba baixando a taxa de administração dos ETFs fazendo com que eles sejam investimentos mais “baratos”. Entretanto, como os ETFs vão estar sempre seguindo um índice, eles não têm como bater o mercado (ter rendimentos superiores), assim esses fundos estão sempre na média.
Fundos de ações, por sua vezes, são negociados fora da bolsa de valores, na plataforma das corretoras. Eles também podem ter gestão ativa e passiva, mas a maioria tem gestão ativa. Assim, existem vários especialistas trabalhando para escolher cada ação que compõem o portfólio do fundo. Para pagar todos esses profissionais, a taxa de administração desses fundos são bem mais altas, e normalmente existe uma taxa de performance quando esses fundos têm um rendimento maior do que a média do mercado. Assim, ao contrário dos ETFs, fundos de ação têm a possibilidade de ter rendimentos maiores do que o mercado. Dessa forma, acabamos pagando mais caro para ter a possibilidade de obter maiores retornos.
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Burocracia nos fundos
Outro fato que torna a taxa de administração dos fundos de ações mais cara é que eles precisam ter o controle de cada cotista dentro do fundo, mantendo o contato com estes por meio cartas informando assuntos sobre os investimentos. ETFs não precisam ter esse registro, pois as corretoras e a bolsa de valores que tomam conta desse controle. Esse mecanismo é o mesmo das empresas negociadas em bolsa, pois elas não precisam se preocupar em manter o registro de cada investidor que possui suas ações, elas apenas informam ao mercado sua rentabilidade. Por não terem esse trabalho extra, os ETFs não precisam cobrar por esse serviço, e isso se reflete na suas baixas taxas de administração.
Aquisição
Na hora da aquisição, também existem diferenças. ETFs são negociados por unidade na bolsa de valores. No Brasil, esses fundos costumavam ser negociados em lotes de 10, porém desde setembro de 2020, a B3 reduziu o lote padrão para uma unidade. Logo, podemos comprar ETFs por volta de 100 reais. Já fundos de ações têm um preço mínimo de entrada que normalmente gira em torno de R$ 500 à R$ 20.000 reais. Os preços e rentabilidades passadas são mostrados no site da corretora, juntamente com o preço mínimo de entrada e de movimentação. Esses fundos têm um horário limite para efetivação da operação do dia, se o investidor passar desse horário, sua compra vai ser efetuada apenas no próximo dia útil.
Por serem negociados de maneira diferentes, ETFs e fundos de ações também têm mecanismos de investimento distintos. Quando alguém compra cotas de um fundo de ações, os gestores do fundo pegam esse novo dinheiro e investem em mais ações, assim o patrimônio do fundo cresce. Logo, as negociações são feitas diretamente com o fundo, que cresce ou diminui de tamanho devido a movimentação dos seus cotistas.
Quem negocia ETFs tem que comprar cotas de outras pessoas que queiram vendê-las. Logo, o ETF não se envolve nas negociações entre investidores. Nem o número de cotas é de responsabilidade do ETF. No mercado financeiro existe um Participante Autorizado que é encarregado da criação e do resgate de cotas do ETF. Esse Participante é uma instituição financeira fora da equipe do ETF, que é responsável por verificar no mercado se existe demanda pelas cotas do ETF ou se muitas pessoas estão querendo vender essas cotas.
No caso da demanda, esse Participante Autorizado segue algumas etapas:
- Ele verifica no mercado que existem muitas pessoas querendo comprar aquele ETF,
- Ele ver quais ações que compõem esse fundo,
- Compra essas ações,
- Troca essas ações por cotas do ETF, e
- Fornece essas novas cotas para os investidores que querem entrar.
Essas processo é quase como se fosse uma terceirização da liquidez do ETF. Esse mecanismo também serve para fazer o balanceamento das ações do ETFs. Como os índices são atualizados a cada três meses, os ETFs precisam acompanhar essa atualização, e os Participantes Autorizados acabam servindo também para comprar ações que aumentaram de peso no índice ou vender ações que perderam seu peso. Toda essa negociação é feita através do processo de criação e resgate de cotas.
Porém, é preciso citar que o Participante Autorizado apenas atua quando há uma alta demanda de compra ou de venda. Quando o número de pessoas querendo sair ou entrar no ETF é semelhante, não há a necessidade da ação do Participante. Apenas as cotas já existentes ficam em circulação.
Liquidez
ETFs, por serem negociados na bolsa, fornecem uma liquidez de D+2, ou seja, quando vendemos cotas desses fundos, nosso dinheiro vai estar na conta da corretora em dois dias úteis. Fundos de ação costumam ter a liquidez de D+30, assim temos que esperar 30 dias para conseguir nosso dinheiro de volta. Essa demora ocorre pois, muitas vezes, o fundo vai ter que vender ações para arrecadar o dinheiro do mercado, e precisa de tempo para rebalancear seu portfólio. Entretanto, é comum que esse tipo de fundo tenha um Cash Drag, ou seja, uma reserva em caixa para caso ocorram esses resgates. Mas mesmo com esse mecanismo, os fundos de ações demoram mais ou menos um mês para depositar nosso dinheiro.
Transparência
Outro ponto importante é que ETFs tendem a ser mais transparentes, pois eles são obrigados a mostrar quais ações fazem parte do seu portfólio. Até porque o Participante Autorizado precisa dessa informação para comprar mais ações daquele ETF caso tenha demanda. Essa atualização acontece a cada 15 minutos justamente para garantir a semelhança do ETF com o índice que ele segue. Fundos de ações tem uma política diferente com relação a publicação de sua carteira. Eles chegam a demorar três meses para divulgar suas posições, assim, quando investimos nesses fundos, não sabemos ao certo quais ações estamos comprando. Nossa escolha é apenas baseada na eficiência da gestão, se ela tem entregado um bom resultado no passado.
Imposto de Renda
Por fim, com relação ao imposto, tanto os ETFs quanto os fundo de ação são tributados em 15% quando os vendemos com lucro. Porém, os fundos de ação recolhem o imposto na fonte, dessa forma todo o dinheiro que recebemos na conta da corretora já foi tributado. Para ETFs, temos que calcular os 15% do ganho de capital que obtemos e gerar uma DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais), para então pagar o tributo até o último dia útil do mês seguinte a venda.