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Quando analisamos o balanço patrimonial de uma empresa, um dos itens mais importantes são os lucros acumulados das vendas que foram retidos para uso futuro.

Esses valores vão ser somados ao capital total dos acionistas para serem investidos no futuro.

Segundo o autor Peter Lynch, existem dois tipos de empresas: as de dividendo e as de crescimento.

As empresas de dividendos são mais maduras e tendem a ser dominantes no seu setor de atuação, logo elas não estão tão interessadas em reter lucros para aumentar suas operações. Dessa forma, esse lucro acaba indo para seus acionistas na forma de dividendos.

Por outro lado, empresas de crescimento retém seus lucros para investir nelas mesmas e aumentar seu marketshare. Por isso, essas empresas não costumam pagar dividendos.

Porém, existem também empresas líderes em seu setor que ainda continuam retendo seus lucros. Em exemplo de empresa que nunca pagou dividendos é a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett

Podemos dizer que esse foi um dos fatores que proporcionou um crescimento tão extraordinário para a empresa. Ela teve uma valorização de 1.826,163% no decorrer dos anos. Para ter uma noção monetária desse crescimento, quem investiu $1 dólar na empresa em 1964, hoje (2020) teria na conta cerca de $18 mil dólares. 

Seu CEO, Warren Buffett, fala abertamente sobre sua inclinação para reter os lucros de sua holding. 

Em sua carta para acionistas de 2019, ele escreve:

“Em 1924, Edgar Lawrence Smith, um economista e consultor financeiro desconhecido, publicou Common Stocks as Long Term Investments, um livro pequeno que mudou o mundo dos investimentos. De fato, a experiência de escrever o livro mudou o próprio Smith, forçando-o a reavaliar suas próprias crenças sobre investimentos.

Inicialmente, ele planejava argumentar que as ações teriam um desempenho melhor do que os bonds durante períodos inflacionários e que os bonds (títulos de renda fixa americanos) proporcionariam retornos superiores durante os períodos deflacionários. Essa ideia inicialmente parece muito sensata, entretanto os resultados surpreenderam Smith.

Seu livro começa, portanto, com uma confissão: ‘Esses estudos são o registro de um fracasso – o fracasso dos fatos em sustentar uma hipótese preconcebida.’ Felizmente para os investidores, esse fracasso levou Smith a pensar mais profundamente sobre como as ações deveriam ser avaliadas.

Para discutir o ponto crucial da visão de Smith, cito uma das primeira pessoas a resenhar seu livro, ninguém menos que John Maynard Keynes: ‘Guardando o melhor para o fim, o que talvez seja o argumento mais relevante do Sr. Smith, e certamente o mais inovador: empresas industriais bem administradas, por regra, não distribuem aos acionistas a totalidade dos lucros auferidos. Em tempos de vacas gordas, se não sempre, elas retêm uma parte de seus lucros e os reinvestem em seus negócios. Assim, existe um elemento de juros compostos (itálico de Keynes) operando a favor de um bom ativo industrial. Com a passagem dos anos, o valor real de uma boa empresa industrial aumenta com o poder dos juros compostos, valor este que é completamente diferente do valor dos dividendos pagos aos acionistas’.

E com essa recomendação divina, Smith deixou de ser desconhecido.

É difícil entender por que os lucros retidos não foram apreciados pelos investidores antes da publicação do livro de Smith. Afinal, não era segredo que uma riqueza imensurável já havia sido acumulada por titãs como Carnegie, Rockefeller e Ford, todos os quais mantiveram grande parte de seus lucros para financiar o crescimento de suas empresas e produzir lucros ainda maiores. Por toda a América, também, houveram desde sempre pequenos capitalistas que se tornaram ricos seguindo a mesma cartilha.

Não obstante, quando a propriedade da empresa era dividida em pedaços pequenos – ‘ações‘ – compradores no período pré-Smith geralmente pensavam em suas ações como uma aposta de curto prazo nos movimentos do mercado. Mesmo em seus melhores dias, ações foram consideradas como especulações. Cavalheiros preferiam bonds.

Embora os investidores tenham demorado a abrir os olhos, a matemática de reter e reinvestir lucros agora é devidamente entendida. Hoje, até mesmo crianças aprendem o que Keynes chamou de ‘inovador’: a combinação de poupar e juros compostos faz milagres.”

Como Buffett ilustrou muito bem em sua carta, os ganhos retidos fazem toda a diferença no longo prazo.

Se você quiser saber como analisar ações, temos um guia completo sobre o assunto.

By Anna Kesya Lima

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